Na última semana, a Santa Maria Design House (SMDH) deu mais um passo para começar a vender em massa os chips projetados na cidade. O microcontrolador ZR-16S08 está sendo desenvolvido há quatro anos e, nos últimos dias, teve o seu primeiro lote entregue para uma empresa cliente que fará os testes físicos do chip, o primeiro brasileiro a chegar ao mercado.
Se a Exatron - porto-alegrense que fabrica equipamentos de iluminação pública, luminárias e até chuveiros com sensores de presença e de luminosidade - aprovar o desempenho do ZR-16, a SMDH poderá contar com um cliente cuja demanda é de até um milhão de chips a cada ano.
- Outro desafio que temos pela frente é de conseguir financiamento para produzir o ZR-16 em escala. Assim, ele fica mais barato, e, tendo o produto na mão, podemos correr atrás dos clientes. Por mais que o nosso chip seja mais "inteligente" e que as empresas brasileiras tenham incentivos fiscais se contratarem fornecedores nacionais, os concorrentes estrangeiros são mais baratos - explica o coordenador da SMDH, João Baptista dos Santos Martins, que, após as eleições, deve ir a Brasília percorrer os ministérios para apresentar o microcontrolador e buscar apoio.
Na última quarta-feira, a SMDH entregou à Exatron um lote de 768 chips e um kit, que contém uma placa, onde o microcontrolador é anexado, que é ligada no computador, para que o chip seja programado com as operações que deve executar. Apesar de já provar que funciona, o ZR-16 precisa passar por testes de resistência ao clima, já que uma das múltiplas aplicações é a iluminação pública, onde ficará constantemente exposto ao sol, à chuva, à variação térmica, entre outros.
- O microcontrolador é um computador pequeninho. O que ele faz é mais ou menos o que faziam os primeiros computadores que foram fabricados, mas este mede dois milímetros por três milímetros. E já estamos trabalhando para desenvolver o ZR 16 bits, que terá mais capacidade e será ainda menor - explica o diretor técnico da SMDH, Carlos Alberto Zaffari, que cedeu, do próprio sobrenome, o "Z" do chip.
Desde que começou a ser pensado, há quatro anos, o ZR-16 está com o processo de patente em andamento. Ainda pode levar alguns anos para que a SMDH tenha o chip pioneiro patenteado, mas, depois disso, terá exclusividade na produção por cerca de 20 anos.
Defesa, espaço e entretenimento
Os 23 funcionários da SMDH, entre eles três colombianos e um francês, trabalham em outros projetos. Um deles é a versão do ZR-16 que economiza energia, o ZR16LP08 (o LP é de low power, baixa energia, em inglês). Esse chip está na fase de prototipação, ou seja, o seu projeto foi finalizado e enviado para a fábrica, que fica na Malásia, para que algumas versões de teste sejam produzidas e, em seguida, avaliadas.
O desenvolvimento desse chip está sendo financiado pelo Sistema Brasileiro de Tecnologia (Sibratec), em que parte dos recursos vem do governo federal, e outra, de empresas interessadas no projeto. No caso, a empresa financiadora e que deu especificações para o projeto foi a Imply, de Santa Cruz do Sul, que fabrica painéis luminosos, equipamentos para boliche e placares eletrônicos - inclusive, alguns instalados em estádios que sediaram a Copa do Mundo, no Brasil.
A SMDH também tem um contrato de desenvolvimento com a Mectron, que pertence ao grupo Odebrecht e que é voltada para a defesa aérea e naval, com projetos em mísseis, sistemas para aeronaves, submarinos e satélites. Por conta de um contrato de confidencialidade, a finalidade do projeto ainda não pode ser revelada.
Outra frente de trabalho é no espaço. A SMDH está desenvolvendo microcontroladores resistentes à radiação, que possam ser embarcados em satélites e em outros equipamentos que fiquem expostos à radiação solar. O primeiro desenvolvido está no cubesat projetado pelo Inpe e pela UFSM NanosatC-BR1, atualmente em órbita. A equipe da SMDH já está trabalhando no"